sábado, janeiro 21, 2012

Quando vier a Primavera...

...Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.

Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro

2 comentários:

  1. Era tão bom conseguir pensar dessa forma...

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  2. Se eu pudesse trincar a terra toda
    E sentir-lhe um paladar,
    E se a terra fosse uma cousa para trincar
    Seria mais feliz um momento...
    Mas eu nem sempre quero ser feliz.
    É preciso ser de vez em quando infeliz
    Para se poder ser natural...
    Nem tudo é dias de sol,
    E a chuva, quando falta muito, pede-se.
    Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
    Naturalmente, como quem não estranha
    Que haja montanhas e planícies
    E que haja rochedos e erva...

    O que é preciso é ser-se natural e calmo
    Na felicidade ou na infelicidade,
    Sentir-se como quem olha,
    Pensar como quem anda,
    E quando se vai morrer, lembrar-se que o dia morre,
    E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
    Assim é e assim seja...

    Claro,Alberto Caeiro

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